domingo, 29 de março de 2009

Meia Ponte é um dos 7 rios mais poluídos do País, diz relatório

Estudo feito pela Agência Nacional de Águas compara rio goiano ao Tietê, que corta São Paulo
Carla Borges e Rosane Rodrigues da Cunha

O Meia Ponte está entre os sete rios mais poluídos do Brasil. É o que revela o Relatório da Conjuntura Nacional dos Recursos Hídricos no Brasil - 2009, lançado ontem pela Agência Nacional de Águas (ANA). O documento, que avalia a qualidade e a quantidade das águas brasileiras, atesta que a qualidade das águas do Meia Ponte é péssima, principalmente na seca, entre setembro e outubro.

O relatório aponta que, em relação à assimilação de carga orgânica, o Rio Meio Ponte encontra-se em uma situação crítica. Ele aparece ao lado de rios também poluídos, como o Tietê e Piracicaba, em São Paulo, das Velhas e Verde Grande, em Minas Gerais, Iguaçu, no Paraná, dos Sinos, no Rio Grande do Sul, e Anhanduí, no Mato Grosso do Sul. O Meia Ponte atravessa 37 municípios em Goiás e é responsável pelo abastecimento de mais de 2 milhões de goianos .

Para o cálculo da assimilação de carga orgânica são considerados fatores como a quantidade de esgoto gerada diariamente, o volume de resíduos tratados e a vazão do rio. De acordo com o relatório da ANA, em rios com baixa disponibilidade hídrica, principalmente os que se encontram na região do semi-árido, o problema de assimilação de cargas orgânicas está associado, sobretudo, à reduzida vazão dos mananciais.

Em rios com alta disponibilidade hídrica, a causa do problema está na elevada carga orgânica associada à grande densidade populacional das regiões metropolitanas.

TietêEspecialista da ANA, Wagner Vilella disse ao POPULAR que as análises químicas de água apontam situação semelhante entre o Meia Ponte e o Tietê, que corta a cidade de São Paulo e é um dos exemplos mais expressivos de poluição hídrica no País. “O Tietê, hoje, não pode mais ser classificado como rio, mas se compararmos os padrões químicos das águas dos dois (Tietê e Meia Ponte) não há muita diferença”, disse.

Vilella explica que o Meia Ponte é um rio de baixa vazão e que recebe praticamente todo o esgoto da Região Metropolitana de Goiânia. “Na seca, quando a vazão fica ainda mais reduzida, a situação piora, porque é menos água para diluir o esgoto lançado”, diz. É justamente nessa época que também aumenta o volume de esgoto captado e lançado diretamente nos mananciais, por causa da baixa umidade relativa do ar, que leva a um consumo maior de água.

Empresas indiciadas por degradação
O Rio Meia Ponte, que corta regiões com grande densidade populacional e em períodos de seca sofre com a redução de seu volume de água, amarga a soma desses fatores. “Em períodos de seca, o Meia Ponte perde 90% de sua capacidade, mas continua recebendo o lançamento de resíduos, o que transforma o rio em um esgoto a céu aberto”, observa o delegado Luziano Severino de Carvalho, titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente (Dema).

A citação do Meia Ponte no relatório da ANA não surpreendeu o delegado, para quem a situação do rio, que ele considera o mais importante do Estado, melhorou nos últimos dez anos. “Mas muito ainda precisa ser feito”, diz.

Idealizador do projeto Nascentes que, desde 1999, vem promovendo a recuperação de nascentes e matas ciliares do Meia Ponte, Luziano diz que muitas áreas degradadas já foram recuperadas. Empreendimentos poluidores instalados na bacia do Meia Ponte, segundo ele, também já estão se adequando às exigências para o tratamento de seus efluentes.

“Mas, o rio ainda enfrenta o despejo de esgoto in natura, inclusive pela Saneago), a extração de areia e a poluição por resíduos industriais, lavajatos, postos de combustível, frigoríficos, granjas e o agrotóxico usado em lavouras”, diz, enumerando algumas fontes de poluição do rio.

Em fevereiro, após um ano de investigação, a Dema concluiu um inquérito sobre a degradação no Rio Meia Ponte. Mais de 50 empresas foram indiciadas. A Dema, em parceria com técnicos da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), vistoriou empresas na capital, em Goianira, Inhumas, Nerópolis e Ouro Verde. Foi constatada a prática de seis crimes que ameaçam o meio ambiente e a saúde da população. Segundo o delegado, muitas empresas estão funcionando sem a licença ambiental exigida de estabelecimentos potencialmente poluidores. Com a denúncia na Justiça, o delegado se mostra otimista com a possível solução do problema. “A Justiça deve exigir essa licença e as empresas devem se adequar à legislação ambiental”, diz.

Além da adequação dos empreendimentos , a preservação do Rio Meia Ponte requer também envolvimento da sociedade, diz o titular da Dema. Ele observa que o lixo descartado nas ruas de forma inadequada e entulhos jogados às margens do rio também são responsáveis pela degradação do Meia Ponte.

Presidente do Comitê da Bacia do Rio Meia Ponte, o engenheiro em Hidrologia e Recursos Hídricos Marcos Correntino também ressalta a necessidade de educação ambiental da população. “Temos projetos isolados de educação ambiental, mas é preciso ampliá-los”, diz Correntino, que acredita ser esse o caminho para conscientizar empresários, agricultores e toda a sociedade sobre a necessidade de preservar o rio.

Ele observa que o maior problema enfrentado hoje pelo Meia Ponte é o despejo de lixo e esgoto. Essa poluição é agravada no período da seca, quando a impermeabilização do solo e o desmatamento das margens comprometem o volume do Meia Ponte.
De acordo com Correntino, as ações de recuperação do rio são anuladas por outras agressões ambientais. (R.R.C.)

ETE remove só metade de resíduo sólido
Anunciada, quando de sua construção, como a salvação para o Rio Meia Ponte, a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Goiânia trata 75% do esgoto coletado em Goiânia, mas remove apenas 50% da matéria orgânica presente nos efluentes coletados. O restante é lançado novamente ao Rio Meia Ponte junto com a água. A ampliação da ETE é uma das medidas anunciadas pela Saneamento de Goiás (Saneago) para despoluir o manancial. Outra é a coleta do esgoto que hoje é lançado diretamente no rio.

A gerente de Tratamento de Esgoto da Saneago, Marisa Pignataro Sant’Anna, acredita que, dentro de três anos, será possível fazer o tratamento secundário do esgoto – atualmente é feito apenas o chamado tratamento primário quimicamente assistido –, quando ficarem prontas as obras de conclusão da ETE. O prazo, acredita, será o necessário para concluir a licitação e executar as obras.

Outra obra que será feita, e já foi licitada, é a construção de um interceptor ao longo do Rio Meia Ponte. Essa rede vai receber o esgoto que hoje é lançado sem tratamento nos cursos d’água. Ele será recolhido e levado para a Estação de Tratamento de Esgoto do Parque Atheneu, que atende moradores de bairros da região sul da capital.

Para receber esse volume maior de efluentes, a estação terá de ser ampliada. Atualmente, ela trata 100 litros de esgoto por segundo. Com a ampliação, a capacidade chegará a 700 litros por segundo. “Esse conjunto de obras vai melhorar bastante a situação do Meia Ponte em Goiânia”, diz Marisa Sant’Anna. A Saneago também promete construir redes e interceptores na região norte de Goiânia, acima do Ribeirão Anicuns, que é afluente do Meia Ponte.
Agência monitora lançamentos

A Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) monitora o lançamento de esgoto diretamente nos rios e córregos da capital. Por meio de denúncias, fiscais da agência têm flagrado situações como a de moradores de bairros distantes que fazem ligações clandestinas para o lançamento do esgoto doméstico na rede de captação de águas pluviais (das chuvas).

A agência também aplicou seguidas multas na Saneamento de Goiás (Saneago), até que a empresa firmou termo de ajustamento de conduta (TAC) com o Ministério Público, comprometendo-se a eliminar o lançamento de esgoto doméstico diretamente nos cursos d’água. No termo foram estabelecidos prazos de um a cinco anos para a realização das obras para garantir a captação de todo o esgoto doméstico gerado pela população de Goiânia.

“Nosso trabalho é de monitoramento e controle para evitar esse tipo de situação”, diz o gerente de Monitoramento Ambiental da Amma, Ramiro Cristiano Martins Menezes. Ele explica que, no caso de ocupações irregulares, a Amma reparte o trabalho com outras pastas municipais responsáveis pelos setores de obras e habitação. “É um problema bem amplo”, resume Ramiro.
O gerente, no entanto, considera “uma injustiça” o relatório da Agência Nacional de Águas (ANA), que compara o grau de poluição do Meia Ponte ao do Tietê. “ Nosso esgoto é doméstico, enquanto o de São Paulo é basicamente industrial”, justifica.

FONTE: www2.opopular.com.br

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