quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Rio Meia Ponte tem 430 km poluídos - Goiás


Levantamento feito por técnico da semarh aponta que degradação atingiu manancial em praticamente toda a sua extensão

Patrícia Drummond
O Rio Meia Ponte agoniza. E o risco de morte percorre praticamente todos os 430 quilômetros de sua extensão, desde a nascente, no município de Itauçu, até a foz, em Nilópolis, distrito de Cachoeira Dourada. Quem afirma é o gestor e perito ambiental e sanitário Neri Caetano Barbosa, funcionário de carreira da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Goiás (Semarh) há 26 anos, 15 deles dedicados ao estudo das águas de um dos mais importantes mananciais do Estado. Ele está concluindo levantamento sobre a situação do Meia Ponte que será encaminhado oficialmente ao Ministério Público e à Delegacia Estadual do Meio Ambiente (Dema) nos próximos dias.
“O grande problema, hoje, do Meia Ponte, é a diminuição da vazão do rio para o abastecimento e a não diminuição, ao mesmo tempo, da carga orgânica lançada”, declara o especialista, sublinhando que o ideal, nesse caso, seria uma espécie de compensação do sistema. De acordo com ele, a situação pior do rio pode ser observada a partir do trecho onde deságua o Córrego Caveirinha, em Goiânia, até a Usina do Rochedo, em Piracanjuba. Abaixo desse ponto, até Cachoeira Dourada, o Meia Ponte apresenta melhores condições.
Neri aponta fatores que podem contribuir para o mau cheiro da água ou mesmo nas proximidades do manancial: a captação e a diminuição da vazão continuam a ocorrer como em outras épocas do ano, mas, no período de estiagem e de seca, a vazão é naturalmente mais baixa. Isso acentua os efeitos do lançamento de resíduos sem tratamento – cerca de 30%, atualmente, na capital – em águas pluviais ou diretamente no rio, de forma clandestina.
TratamentoO gestor e perito ambiental e sanitário ressalta que a Estação de Tratamento de Esgoto de Goiânia (ETE) ainda não promove tratamento completo do esgoto despejado no Meia Ponte. “A eficiência do sistema, como funciona hoje, é de 52%”, destaca. “Trabalhamos, por enquanto, com o tratamento em nível primário, quando o processo completo inclui, ao todo, três etapas”. Segundo Neri Barbosa, atualmente ocorre, na ETE, apenas a precipitação química do lodo, uma precipitação forçada, com o uso de substâncias como o sulfato de alumínio e o polímero. Antes, há a precipitação preliminar – com o uso de grades, por exemplo –, para separar o material bruto e grosseiro, como paus, galhos e pedras.
“A próxima etapa do processo seria a digestão biológica do lodo, um processo de decantação primária do material, que envolve as bactérias. Na seqüência, teríamos o processo de maturação, mais uma desinfecção natural do lodo, com a ajuda dos raios solares”, enumera o especialista. Ele explica que o lodo é composto por bactérias e, quando elas morrem, podem provocar um forte odor – aquele mau cheiro característico dos últimos dias, percebido por boa parte da população goianiense. A decantação biológica, induzida, com oxigenação, temperatura e PH adequados, possibilitam que as bactérias não morram e o lodo vai para o fundo do rio.
O monitoramento do Rio Meia Ponte, realizado por Neri Caetano Barbosa envolve características das indústrias ao longo do curso d’água, o tipo de esgoto que elas lançam no rio, a vazão em cada um dos trechos e o equivalente populacional. Observa que a nascente, em Itauçu, está desprotegida e que há indústria, na região, lançando o esgoto diretamente no rio. Entre Inhumas e Goiânia, há extração de areia e de argila. Outro problema, segundo o perito, é o despejo de dejetos sólidos na capital, onde o Meia Ponte recebe, ainda, o esgoto do Ribeirão Anicuns, onde deságuam Capim Puba, Cascavel, Botafogo, Macambira e Córrego do Mingau.


Cedo para comemorar
Reportagem publicada pelo POPULAR em 2005, sobre a recuperação do Rio Meia Ponte pós-inauguração da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), adivinhava o futuro do manancial. O texto anunciava que o Rio Meia Ponte começava a dar sinais de que poderia vencer a poluição.
A matéria mostrava que, em um ano, a ETE havia reduzido em quase 30% a carga de esgoto no rio. Até o dourado, peixe pouco resistente à poluição, reaparecera. Mas, como dizia a reportagem, era “cedo para muito entusiasmo”.

Fonte: http://www.opopular.com.br/ - 17/09/2008

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